"Julgamos que faça parte de um espírito civilizado em nossa época ter travado contato com a forma de pensamento crítico peculiarmente moderno e oportuno e que chamamos sociologia. Mesmo aqueles que não encontram nessa atividade intelectual seu próprio demônio particular, como se expressou Weber, tornar-se-ão, através desse contato, um pouco menos obstinados em seus preconceitos, um pouco mais cuidadosos em seus comprometimentos e um pouco céticos em relação aos comprometimentos alheios – e talvez um pouco mais compassivos em suas jornadas através da sociedade”.(Peter Berger, Perspectivas Sociológicas: uma visão humanística) ·.

“Na entrada para a ciência como na entrada do inferno, é preciso impor a exigência: ‘Que aqui se afaste toda suspeita, que neste lugar se despreze todo medo (Dante Alighieri)’(Marx- Prefácio da Contribuição para a Crítica da Economia Política)

domingo, 7 de julho de 2013

"HERÓI" INCENSADO POR VEJA AGE À EXTREMA DIREITA

http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/107574/Her%C3%B3i-incensado-por-Veja-age-%C3%A0-extrema-direita.htm


Há muito não leio a Revista VEJA .Mas dar voz a esse imbecil, a "voz que emergiu das ruas" , verdadeiro arquétipo da vanguarda do atraso, é algo muito sério! É colocar em questão é a representação que a revista tem no controle da maior parte da mídia e a responsabilidade que o Estado tem na concessão de TV, rádio, jornal. .Mais do que isso , as soluções autoritárias são reais, não são boatos ou delírios que redes sociais .As postagens no Facebook, pelo fim dos partidos, corrupção, pelo fim do Congresso, etc..etc, continuam numericamente significativas.Substancialmente são perigosas.As ruas se esvaziaram depois da "manifesta", a grande maioria foi para casa, meio rouca na dispersão de vozes .Mas, mas os porões e subterrâneos da sociedade estão prontos para falar e calar: voz unica pronta para calar a diversidade.Uma voz atonal ,na busca do uníssono fascista.
PS: A proposito, se acabarem com os partidos, quem fara politica? Os clubes de futebol?As igrejas... ?


quinta-feira, 4 de julho de 2013

"Secretário-geral da Fifa afirma que apoia manifestações no país, desde que não tenha violência e que não seja em locais dos jogos da Copa"

"Secretário-geral da Fifa afirma que apoia manifestações no país, desde que não tenha violência e que não seja em locais dos jogos da Copa".A FIFA estimula na Europa mensagens de protesto contra o racismo por exemplo.Protesto aqui não pode? Até quando aguentaremos a ingerência da FIFA nos assuntos internos?Se protestou, se protesta, ppotesto antes dos jogos e e a FIFA sai ilesa.Sua intromissão no Brasil é mais poderosa do que uma invasão da temida 5ª frota dos mariners nos seus tempos de glória.É a globalização de chuteiras ! Como se não bastasse querer comercializar o futebol, o tal do Valcke deixou entendido, em declaração anterior , que preferiria organizar uma Copa do Mundo numa pais que não praticasse tanto a democracia.Mesmo com as falhas, nossa democracia ainda tem vigor para vandalizar a ditadura da FIFA. Mas as falhas da nossa democracia e a falha de caráter da administração pública permitem a dispensa de licitações para construção dos estádios, a suspensão de direitos a jovens e idosos em relação ao ingresso, a extinção das cadeiras perpetuas no Maracanã( isso em qq esquina , é roubo!) , saudoso Maraca engolido pela corrupção e sua calculadora que puxou o custo para R$ 1,2 bilhões . E a revogação da lei que proíbe a venda de bebidas alcoólicas nas arenas(!) ? .E antes que eu esqueça: Arena é o cacete! Viva o estádios e os alçapões! Arena me lembra o Império Romano : carnificina , morte, luta sem sentido. Arenas que consumiram dinheiro público .Não precisaríamos de tanto para construir escolas e hospitais. Nada de hospital e escola Padrão FIFA.O que é urgente é escola- padrão escola e hospital-padrão hospital.Gosto de futebol mas gosto mais ainda de democracia!

Mais uma do Cabral:

Novo Maracanã,obras concluídas , realizadas com dinheiro público e entregue  à iniciativa privada, parte da cultura popular e do patrimônio do carioca.
Sérgio Cabral: 56 % do mandato concluído e realizado favorecendo empresários e amigos. Faltam 1 ano, 8 meses e 8 dias para Sergio Cabral completar seu governo, tempo de sobra para reforçar sua marca antidemocrática e privatista. Seguindo seu plano, o governador encaminhou para a ALERJ o projeto de lei nº 2055/2013 que extingue os cargos de servente, merendeira, vigia e zelador do quadro de pessoal de apoio da Secretaria de Educação. Se a lei for aprovada significará a consolidação definitiva da terceirização e da exploração do trabalho no setor de apoio das escolas estaduais, contratando pessoas por empresas que possuem duvidosos contratos com Estado. 
É o aprofundamento da precarização do serviço público e do trabalho do profissional de educação. É a privatização do Estado!
É interessante a leitura do texto do PL. Fundamentado no mais clássico liberalismo, o governador nele fundamenta a justificativa para extinguir esses cargos. Além de registrar a excelência técnica da empresas prestadoras de serviços, o governador ressalva que as atividades em vias de extinção não configuram atividades típicas do Estado. Mas a questão é que, tal qual o Maracanã, Cabral quer acabar com uma outra cultura, a cultura da escola publica, tão importante na formação de milhares de brasileiros. A relação do aluno com o confidente inspetor, com a paciente merendeira e com a atenciosa servente criava a identidade, fortalecia laços sociais, fundamentais para uma vida mais fraterna.

O pior é que, mesmo contando o tempo para a saída de Cabral, não temos ainda uma opção realmente capaz de confrontar a turma do Cabral. Lindbergh? Se romper realmente com o PMDB e com a banda atrasada do PT, pode ser.Com Pezão, caminharemos a passos largos para o caos! Garotinho? Sem comentários
E sobre as manifestações que ocorreram na cidade do Rio de Janeiro,  o governador disse: "É um problema da segurança, não meu. Mas que haja de tal forma que não ocorra um conflito físico. Já fui estudante, já participei de grêmio, já fui do partido comunista. Mas acho que a gente tem que ter responsabilidade e respeito à população. Qualquer tipo de manifestação é saudável, desde que respeitosa".
Governador: o seu governo é respeitoso? Com quem? Com o que?Com a FIFA? Com o Eike?Com a educação?Com a saúde?O Eike ,a beira da falência, usou criminosamente dinheiro publico na especulação.E agora? Falido praticamente, continuara a ser um dos homens mais ricos do Brasil.Sua fortuna pessoal é intocável e aumentou com a sangria desatada do caixa do governo estadual. Governador, que responsabilidade vc tem perante as pessoas pobres?Que respeito podemos esperar de vc? Vc foi gremista e membro do PCB? Que vergonha para o o movimento estudantil e para velho partidão..Alias, teu pai, o Cabralzão falou várias vezes que quando ele militava no PCB fazia reuniões na sua casa e vc, moleque etário ,não o atual, ficava circulando pela reunião.Imagino como vc perturbava! Ser militante e preocupado com causas sociais não é genético nem atávico: é coisa de caráter!
14/06/2013

domingo, 8 de maio de 2011

Tragédia em Realengo se transforma em circo de horrores dissociado de reflexão social

Alô, alô, Realengo:
Aquele abraço!"
(Gilberto Gil, no samba-exaltação Aquele abraço, ao partir para o exílio, forçado pela ditadura militar)

A dor pelas mortes e pelos ferimentos, brutais e gratuitos, das crianças e pré-adolescentes da Escola Municipal Tasso da Silveira, no bairro do Realengo, na cidade do Rio de Janeiro, não deve obscurecer nossa consciência crítica.
 Nada que é humano é somente individual. É individual e social. Mesmo a loucura e suas consequências.
 Em que exemplos de violência e insensibilidade, reais e fictícios, o rapaz Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, ex-aluno da escola atingida, buscou inspiração? Onde conseguiu informações sobre o manejo de armas e o planejamento de massacres? Como adquiriu os dois revólveres e a farta munição que utilizou? Por que Wellington, filho de uma paciente psiquiátrica, arredio desde criança, e que já apresentava há vários meses, após o falecimento dos pais adotivos, sinais perceptíveis de descontrole e decadência pessoal, foi esquecido sozinho numa casa herdada, sem apoio nem assistência?
 A forma capitalista de vida social, sobretudo em seus traços contemporâneos, engendra um individualismo cada vez mais exacerbado e uma perda crescente de atenção e solidariedade das pessoas entre si. Não é possível outra forma de sociabilidade humana, que reduza tragédias como a que ensanguentou ontem pela manhã o bairro carioca de Realengo?
Estou cada vez mais estarrecido com a cobertura predominantemente passional e facciosa da tragédia ocorrida em escola municipal do Rio de Janeiro, no bairro do Realengo.
 O jovem Wellington de Oliveira, autor dos disparos que mataram e feriram alunos inocentes da escola, foi chamado de "meliante" nas primeiras declarações do policial que o abateu e continua sendo indigitado como "assassino" por quase toda a mídia, embora já se saiba que sofria de esquizofrenia desde criança. A mídia negligencia as informações de que Wellington, quando era aluno da escola, passou por vexames e humilhações por causa de sua introversão e bizarrices. Não aborda a falta de acompanhamento e tratamento adequados de um paciente diagnosticado de esquizofrenia desde criança, o que agravou a evolução de sua enfermidade. Não trata das informações sobre atentados e manejo de armas que podem ser acessadas facilmente na internet. Não reavalia a divulgação maciça, cotidiana e acrítica dos mais variados atos e formas de violência praticadas por grandes potências e contumazes delinquentes, reproduzidos em filmes de sucesso e até mesmo em jogos eletrônicos. Não esclarece como Wellington conseguiu as armas e as munições, sem as quais não poderia ter feito seus disparos cruéis e desvairados. Não alerta para a atmosfera envenenada de individualismo e competição em que a infância e a juventude vêm sendo forjadas.
 Com essa cobertura irresponsável e superficial, a maioria da mídia apenas acirra a dor e as reações equivocadas dos parentes das vítimas e de um amplo setor popular. E, nesse clima irracional, as autoridades policiais já alertam para possíveis ataques de represália a familiares do jovem atirador.
 São poucos também os professores e mais reduzidas ainda as entidades do magistério que têm vindo a público para lembrar a violência que se tornou endêmica nas escolas, principalmente nas escolas públicas, rebatendo a ideia de que a tragédia do Realengo possa ser considerada um fato isolado e imprevisível. Surpreende também que os movimentos de saúde, sobretudo os de saúde mental, não se empenhem em repor a apreciação do trágico acontecimento num quadro mais objetivo e multilateral, que leve em conta a condição do autor dos disparos, a falta de acompanhamento e tratamento de seu padecimento mental e as circunstâncias finais de abandono e solidão que precederam seu gesto de sofrida insanidade. Preocupa também que juristas de indiscutíveis convicções democráticas não se pronunciem para reclamar o tratamento jurídico adequado que merece um jovem esquizofrênico, mesmo que pratique atos de grande crueldade.
Abalados pelo acontecimento, que não conseguem entender satisfatoriamente, muitos parecem retroceder à Idade Média, quase pregando a condenação dos loucos como endemoninhados e bruxos e seu justiçamento nas chamas de fogueiras.
Vêm à lembrança as advertências de Engels e de Rosa Luxemburgo de que o declínio da civilização capitalista poderia ser seguido não por um salto socialista, mas por uma regressão à barbárie. É preciso insistir, portanto, na necessidade de lutar pela alternativa de uma civilização superior, socialista, baseada não apenas no poder democrático dos trabalhadores, na propriedade social dos meios de produção, no  planejamento das atividades econômicas ou em serviços públicos universais e de qualidade, principalmente nas áreas de saúde, educação e previdência, mas também em valores de respeito, solidariedade e ajuda mútua no convívio social.
 
 
Questões que não querem calar
O programa “Fantástico” transmitido pela Rede Globo na noite de domingo exibiu novas reportagens sobre a tragédia que se abateu sobre a Escola Municipal Tasso da Silveira, no bairro do Realengo, na cidade do Rio de Janeiro. As reportagens devem ter suscitado novas preocupações nos espectadores atentos.

1) É legal e admissível que a polícia carioca repasse imagens e documentos da investigação para a Rede Globo com exclusividade, discriminando os outros veículos de comunicação?

2) Segundo as imagens transmitidas, as professoras das duas salas de aula invadidas pelo atirador foram as primeiras a fugir, deixando para trás as crianças e adolescentes pelos quais eram responsáveis. Por que a entrevistadora não questionou esse comportamento? Por que as autoridades educacionais do Rio de Janeiro não apuram, nem discutem com as famílias dos alunos, a conduta da direção, dos professores e dos funcionários da escola no episódio, até mesmo para estabelecer padrões de reação escolar na eventual repetição de ocorrências semelhantes? Segundo regra conhecida, o comandante de uma embarcação que naufraga deve ser o último a abandoná-la.

3) Relatos de colegas de Wellington de Oliveira, reproduzidos pelo programa da Globo, confirmaram que o menino introspectivo e vulnerável costumava ser objeto de gozações e humilhações na escola. Grupos de alunas o cercavam, roçando seu corpo e simulando assediá-lo sexualmente, para o sádico divertimento de outros alunos e alunas que assistiam. Em uma ocasião pelo menos, colegas mais fortes o levantaram pelas pernas, enfiaram sua cabeça numa privada e acionaram a descarga, conforme os entrevistados admitiram. Contraditoriamente, uma das professoras que abandonou precipitadamente a sala de aula, deixando para trás seus alunos, declarou enfaticamente no programa da Globo que nunca houve “histórico de violência” na Escola Municipal Tasso da Silveira. O que era feito com Wellington não configura violência e violência repetida? Como são supervisionados os banheiros, os horários de recreio e as saídas das escolas, que se têm revelado momentos e espaços críticos para a integridade e a segurança de alunas e alunos mais indefesos?

4) Conforme as declarações de um dos irmãos de criação de Wellington, a mãe deles foi chamada à escola, alertada para o comportamento discrepante do aluno e aconselhada a procurar um psicólogo ou psiquiatra para avaliá-lo. Isso foi feito? Em nossa sociedade capitalista, sobretudo na fase neoliberal e privatizante que atravessa há cerca de duas décadas, existe serviço público na região capaz de assegurar esse atendimento, tratamento e acompanhamento? Por que esses aspectos da tragédia não são pesquisados, nem discutidos?

5) Por que não têm sido ouvidos juristas competentes sobre os aspectos penais envolvidos em atos de jovens esquizofrênicos, mesmo que esses atos sejam chocantes, brutais e injustificáveis como os que abalaram a escola do Realengo? Se Wellington tivesse sobrevivido, ele poderia ser levado a júri e condenado à prisão? É correto tratá-lo raivosamente como “criminoso” e “assassino” como qualquer jovem normal e imputável, esquecendo seu prolongado e negligenciado sofrimento mental? A dor merecida pelas vítimas de sua insanidade e a solidariedade com os familiares dos alunos mortos e feridos devem impedir a solidariedade com os familiares do autor dos disparos e a compaixão pelo jovem que premeditou e executou o massacre e acabou sendo vítima de seus próprios atos tresloucados?
 A tragédia do Realengo precisa ser debatida de forma séria e multilateral se a intenção for evitar a repetição de ocorrências semelhantes e não apenas disputar índices de audiência.
É preciso insistir: tudo que é humano é inseparavelmente individual e social. Inclusive a loucura e suas consequências. O capitalismo contemporâneo incentiva, mais do que nunca, o individualismo, a competição, a insensibilidade. Exalta os vencedores e despreza os derrotados. Pode queixar-se de colher os frutos de seu darwinismo social?

Internem a Globo?
O locutor William Bonner anunciou ontem à noite (11/04) em tom dramático pelo Jornal Nacional, transmitido pela Rede Globo para todo o país, que o "homem" que assassinou "covardemente" alunas e alunos da escola carioca Tasso da Silveira mantinha contatos com um grupo "terrorista" supostamente islâmico, insinuando que esse grupo o poderia ter influenciado a planejar e executar o ataque sangrento à escola.
Era o que faltava. A Globo encontrou a linha ideal de investigação policial para tentar impedir qualquer discussão séria e abrangente sobre as causas que levaram à tragédia do Realengo e para deslocar as responsabilidades por essa tragédia da direita para a esquerda do espectro político. Nada de falar na esquizofrenia do jovem Wellington de Oliveira, nem na falta de apoio e tratamento que agravou sua enfermidade. Nada de recordar as perseguições e humilhações que sofreu quando era aluno da escola atacada. Nada de mencionar as informações sobre armas e massacres que podem ser acessadas facilmente na internet. Nada de aludir à cultura de individualismo, competição e insensibilidade disseminada pelo capitalismo contemporâneo. Nada de referir-se aos filmes, jogos e exemplos de truculência e crueldade que vêm dos Estados Unidos e das outras potências imperialistas. A grande questão passou a ser, para a Globo, os contatos de Wellington com um alegado grupo "terrorista", que pode nem ser real, mas criado pela imaginação doentia do jovem.
 Acresce que para os monopólios capitalistas de informação como a Globo a palavra "terrorismo" abarca tanto os atos de terror propriamente ditos e as organizações que os praticam quanto à resistência armada de povos oprimidos, como o palestino. Em contrapartida, para esses monopólios da informação, Estados, exércitos e partidos como os de Israel e dos Estados Unidos, que bombardeiam e devastam outros países e assassinam seletivamente seus líderes, não praticam o terrorismo. Assim, ao tentar envolver um suposto grupo "terrorista" nos atos tresloucados do jovem Wellington, a Globo busca comprometer setores que a população costuma considerar de esquerda no massacre justificadamente repudiado.
No esforço para montar essa versão tendenciosa, a Globo não se constrangeu sequer com uma objeção de simples bom senso: por que algum grupo terrorista, de direita ou de esquerda, teria interesse em insuflar um ataque à modesta escola municipal de bairro periférico do Rio de Janeiro?
Para revestir de alguma credibilidade a insinuação, o Jornal Nacional ouviu o ministro da Justiça que se prestou a declarar que a Polícia Federal apoiará todas as linhas de investigação da Polícia Civil do Rio de Janeiro, inclusive a do alegado envolvimento de grupo "terrorista" com as maquinações do jovem Wellington de Oliveira. O que não consegue a poderosa Globo?

Duarte Pacheco Pereira é jornalista, escritor e ex-dirigente da Ação Popular
Disponivel em :  http://www.correiocidadania.com.br/content/view/5716/9/ 

domingo, 18 de julho de 2010

As tentações imperiais da França

A incapacidade do Estado Francês em desenvolver uma política eficiente que integre os imigrantes está fortemente baseada no desejo de promover a homogeneidade numa nação “única e indivisível”, que na verdade é impossível de se realizar, a não ser que Sarkozy assuma de vez o seu desejo de restaurar o velho e detestável Império francês. As identidades dentro das nações são instáveis e é muito difícil uma comunidade cultural coincidir com uma entidade política, tornando impossível buscar a realização daquilo que se chama “França autêntica”. .
Em meio à crise política (corrupção e financiamento de campanha eleitoral) que atinge o seu governo, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, considerou uma vitória importante no Parlamento a aprovação, por 335 votos a favor e um contra, a lei que proíbe o uso do niqab e da burca pelas mulheres muçulmanas. Por que uma questão privada que afeta poucas pessoas na França ressurge como um foco de atenção exagerada? Por que religião e etnia saíram da esfera pessoal e tornaram-se públicas? O fato é que se estabeleceu na França um forte vínculo entre identidade e migração.
As polêmicas sobre o tema da identidade nacional são, antes de tudo, o medo do "outro", do não europeu. Os islâmicos são percebidos cada vez mais por europeus "brancos" não apenas como uma ameaça aos seus empregos, mas, sobretudo, uma ameaça ao “estilo de vida europeu”.
Diferentemente da campanha presidencial em 2005, em que os temas principais eram o desemprego e questões sociais, em 2007, o líder da extrema direita Jean-Marie Le Pen, pode assistir com satisfação a questão da “identidade nacional” assumir o primeiro plano nos debates entre os candidatos. Alguns chegam a especular que as razões da catastrófica atuação da equipe francesa, dentro e fora de campo na África do Sul, refletem as profundas transformações da sociedade francesa. Pois, se em 1998 a França pode celebrar orgulhosa a imagem de Zidane (capitão francês de origem argelina) erguendo a taça de campeão do mundo, revelando a integração de uma nação multi-etnica; no início desse ano, a equipe francesa foi vaiada por uma grande parte da torcida, de filhos ou netos de argelinos, quando jogava uma partida de futebol contra Argélia em Paris.
Apesar desse debate sobre crise da identidade nacional francesa ser indicativo de uma conjunção de fatores que atinge toda a Europa (globalização, crise financeira, desemprego, a ascensão da Ásia, etc), e que tende a se intensificar à medida que se perde a confiança em sua capacidade de superar os desafios, no caso da França a frustração tem levado a uma nostalgia do passado.
Pela primeira vez na história, soldados de 13 países africanos que pertenceram ao antigo império colonial francês marcharam na avenida Champs-Elysees, à frente das tropas francesas nas comemorações do Dia da Bastilha em Paris. Várias organizações da sociedade civil francesa protestaram contra as violações dos direitos humanos por alguns dos líderes africanos que estavam presente e acusaram Sarkozy de nostalgia colonial. Na ocasião Sarkozy anunciou aumento das pensões dos veteranos africanos para o mesmo nível que as dos franceses para corrigir uma injustiça. (os combatentes da 2ª Guerra Mundial estão agora com idades que variam entre 84 e 95 anos).
O tema reapareceu recentemente em mais um polêmico filme sobre a guerra pela independência da Argélia, "Hors la Loi" (Fora da Lei), sob protestos de manifestantes, em Cannes, portando bandeiras da França, dizendo que o filme macula a memória do Exército francês. O diretor é o mesmo do excepcional filme "Dias de Glória" de 2006. Ambos os filmes abordam a história dos soldados das colônias Francesas na África que combateram pela França na 2ª Guerra Mundial. Os britânicos e franceses aliciaram milhares de soldados das colônias com a promessa da futura independência dos seus países. Quando teve início a guerra, em 1939, o governo francês recrutou cerca de 500.000 africanos e De Gaulle recrutou mais 100.000 em 1943 para libertar a França.
No momento da celebração da vitória dos aliados os soldados africanos foram escondidos em lugares que pareciam verdadeiros campos de refugiados, pois De Gaulle queria uma celebração “mais branca”. Aqueles que ousaram tremular a bandeira da Argélia entre as bandeiras dos EUA, Inglaterra e França foram massacrados.
Os franceses criaram um mito e querem que acreditemos que ele existe como se fosse uma realidade: o Estado-Nação. Uma maioria acreditava que esse era o melhor caminho para consolidar e legitimar o governo sobre uma população que se caracteriza por uma língua comum ou por seu caráter étnico. O problema é que as identidades dentro das nações são instáveis e é muito difícil uma comunidade cultural coincidir com uma entidade política, tornando impossível buscar a realização daquilo que se chama “França autêntica”. A incapacidade do Estado Francês em desenvolver uma política eficiente que integre os imigrantes está fortemente baseada no desejo de promover a homogeneidade numa nação “única e indivisível”, que na verdade é impossível de se realizar, a não ser que Sarkozy assuma de vez o seu desejo de restaurar o velho e detestável Império francês.

Reginaldo Nasser -  Professor de Relações Internacionais da PUC-SP

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Filho da... professora - Autora: Mariana Cruz

http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/comportamento/0048.html
Como escrevi aqui algumas semanas atrás (no texto Globalização dos idiomas), desisti de ficar irritada com a indiscrição das pessoas que utilizam o celular nos espaços públicos; ao contrário, as narrativas da vida alheia passaram a ser um ótimo passatempo nas minhas viagens de ônibus. É a síndrome do big brother auditiva. Poucas vezes, porém, o ditado “é melhor escutar isso do que ser surdo” caiu tão bem como em relação à conversa que escutei semana passada. No começo até simpatizei com a moça. Pela voz, pelo vocabulário e pelo tipo de papo, ela devia ter cerca de 30 anos. Conversava com uma amiga, a quem agradecia o apoio naquele momento tão difícil de sua vida, dizia que ela era seu “anjo da guarda”.
Até então, eu estava achando o reconhecimento e valorização de uma amizade entre mulheres algo bonito de se ver, digo, de se ouvir, uma vez que as más línguas teimam em dizer que isso não existe. Balela. A única coisa que me incomodou era seu criativo hábito de chamar a amiga de... amiga. Nada contra quem faz isso, eu inclusive; o problema era a constância com que repetia o termo, e o pior é que sempre vinha antecedido de um “ai”. Assim, a cada cinco palavras ela soltava um “ai, amiga”. Parecia até jargão de programa humorístico. Foi então que começou a catarse (razão provável de ela atribuir à sua “amiga” o título metafísico supracitado). A moça estava bem chateada porque o namorado havia terminado com ela. Quem é que não fica chateado por tomar um pé? Para se sentir melhor, ela começou com aquela exaltação dos defeitos do ex.
É normal querermos diminuir alguém que nos magoou. Somos humanos. Mas até para falar mal de alguém é preciso ter classe. Há formas e formas de se convencer de que uma separação definida pelo outro foi “a-melhor-coisa-que-me-aconteceu” sem, no entanto, apelar. E foi justamente o que ela não fez. Assim que começou a falar com seu “anjo da guarda” sobre o término, foi dizendo que o que impressionava a ela era o fato de o rapaz não se tocar da besteira que tinha feito, de não perceber que ela era “muita, mas muita areia pro caminhãozinho dele”.
Aí eu já comecei a não ficar mais tão solidária com a mocinha abandonada. Acho meio esquisito esse lance de alguém se achar muita areia pro caminhão de alguém. Uma superioridade atestada por quem? Quais os critérios hierárquicos? Onde está a tábua de valores que cataloga certas pessoas como melhores ou piores que outras? Nessa hora fiquei com vontade de virar-me só para ver a pinta daquela imensa duna em forma de mulher. Mas me contive. De repente foi só um deslize provocado pela dor de cotovelo. Eis que ela começou a tecer um rosário de motivos que mostravam sua superioridade perante aquele “caminhãozinho”: “ele não tem berço”, disparou.
Achei que eu estava ouvindo uma sinhazinha da época do Brasil Colônia apresentando os motivos que a impediriam de casar-se com um dos escravos do engenho de seu pai. De volta ao século XXI: o que significa não ter berço? Ela continuou: “ele tem uma autoestima baixa”. Tal motivo até pode ser compreensível para o término de uma relação, o problema é que quem terminou com ela foi ele, e não ao contrário. Ela então justificou a falta de autoestima de seu ex-namorado: “ele vai malhar até quando está doente, gripado”. Não entendi a relação: isso mostra que o cara gosta de malhar, não liga para gripe, não se abate pelo cansaço do corpo – mas não que sua autoestima seja baixa.
Eu estava começando a achar que o fulano tinha lá seus motivos de ter rompido o namoro. Principalmente quando ela saiu com a pérola: “o cara, ainda por cima, é suburbano”. Agora eu tinha certeza de que o rapaz tinha se livrado de uma boa. Como pode uma pessoa sentir-se muita areia para o caminhãozinho de alguém pelo fato de morarem em zonas diferentes da mesma cidade? Ela o considera inferior pelo fato de não ter berço (seja lá o que isso queira significar) e ser suburbano.
Não satisfeita, a garota-zona-sul soltou o último insulto dirigido ao suburbian boy, justamente o que me motivou a escrever este texto. Conto alguns detalhes para melhor contextualizar a cena. Ela contou que, ao relatar para o pai o “fora” que levara, ele começou a tecer as impressões que tinha do ex-futuro genro; sem saber a profissão da mãe do rapaz, quase acertou: um rapaz com aquele perfil (deveria estar se referindo ao fato de ser suburbano e sem berço), e sendo filho de pai militar, devia ser filho de professora de história. Tal julgamento do pai serviu para fortalecer em mim aquela máxima de que “quem sai aos seus não degenera”, isto é, tal pai, tal filha.
Foi quando a moça soltou sua primeira gargalhada, para em seguida elogiar seu pai: “ele é fogo, sabe tudo, quase acertou: a mãe dele é professora de Português!”. Falou como se fosse mais um grande defeito do “caminhãozinho”; afinal, era o que faltava para completar a tríade: sem berço, suburbano e filho de professora.
Eu, como professora, confesso que fiquei mexida. Quer dizer que ser professor agora virou motivo de chacota? Tudo bem que tal menina não é um bom parâmetro, mas, se fosse um pouco coerente, ela e seu pai só poderiam falar assim, isto é, fazer galhofa dos professores, se ambos fossem autodidatas e jamais tivessem tido aulas com algum professor.
Aliás, qualquer que fosse a profissão da mãe do garoto – dona de casa, engenheira química, prostituta, empresária, gari –, que problema teria, desde que exercesse eticamente seu ofício, o que isso teria de desmerecedor? Provavelmente, se o pai do menino fosse um advogado milionário e antiético, aí, sim, ele seria considerado alguém com berço.
Ser professor: o que antes era motivo de orgulho agora é usado para desmerecer, desqualificar uma pessoa; pior ainda, o filho dessa pessoa. Claro que tal observação, vinda de uma pessoa com uma mentalidade preconceituosa, pode soar até como elogio para alguns, mas o demérito dessa profissão não deixa de ser grave, seja lá feito por parte de quem for. Não falta muito para dondocas falarem assim de quem é filho de médico.
Do jeito que esses profissionais estão sendo maltratados tanto pelo governo quanto pelos planos de saúde (a mesma dobradinha que desqualifica os profissionais do magistério: escola pública e privada), é fácil imaginar a cena: as dondocas dizendo “ele até é um carinha legal, mas não tem berço, o pai dele é médico!”. Professor, já há algum tempo, é apontado assim pelos integrantes das classes média e alta. Eu sei disso porque quando digo que sou professora algumas pessoas perguntam: “você dá aula em que faculdade?”. Quando digo que dou aula para o ensino médio (professor universitário ainda tem algum status), invariavelmente sinto um olhar de pena. Outro dia um conhecido disse, com pesar: ”eu sei bem como é isso, minha irmã também dá aula em escola”, como que me consolando.
Apesar das dificuldades, dos baixos salários, da tentativa constante de desvalorização da profissão, vamos lá: é uma profissão dinâmica, que nos faz estar sempre em contato com pessoas diferentes, estar sempre renovando nosso conhecimento, nos dá a possibilidade de exercer nossa criatividade, de trocar experiências com os adolescentes e, principalmente, de poder ajudar a melhorar a vida de muitos jovens, abrindo suas mentes para um novo mundo. Um bom professor, mesmo que tenha renda infinitamente menor do que a de um político antiético ou um advogado corrupto, é muita areia para o caminhãozinho de tais profissionais-com-berço.
Quando eu estava em meio a tais reflexões, o ônibus parou. Instantes antes estava curiosa para ver como era a fulana, torcendo para que fosse horrorosa. Bobagem. Resolvi descer antes que ela passasse por mim. Não queira saber quem ela era, olhar sua roupa, sua bolsa, seu cabelo. Seu discurso já era suficiente. Não sei seu nome, nem rosto. Realmente o mundo é injusto, pensei, com uma irresistível ironia que por vezes me acomete: tão injusto que fez com que um ser tão inferior como um suburbano-caminhãozinho-sem-berço-filho-de-professora-de-português desse um fora numa dondoca-zona-sul-com-berço e ainda a fizesse ficar chorando suas mágoas em alto e bom som pelos transportes coletivos. Existe coisa mais sem berço do que isso?
Publicado em 13 de julho de 2010

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Texto do autor :COMENTÁRIOS SOBRE WEBER: RACIONALIZAÇÃO, ÉTICA PROTESTANTE E CAPITALISMO - Baixe aqui o texto em PDF


O  texto  discute  a tese weberiana do processo de racionalização e analisa como  a concepção de vocação dos puritanos teria favorecido o desenvolvimento do ethos capitalista no Ocidente.

Agosto 2006
Escola de Serviço Social - UFRJ.

Texto do autor: INTRODUÇÃO AS PROPOSTAS METODOLÓGICAS DE ÉMILE DURKHEIM E MAX WEBER .Baixe o texto em PDF

Agosto 2006
Escola de Serviço Social - UFRJ

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Texto do autor: CONSTRUÇÕES IDENTITÁRIAS NA DESCONSTRUÇÃO DO ESTADOS NACIONAIS- Baixe o texto em PDF


O texto  comenta, sucintamente, o processo de formação dos Estados Nacionais, emblemático da chamada modernidade, e as construções das identidades étnicas e culturais relacionadas às concepções contemporâneas desses mesmos Estados que hoje enfrentam o fenômeno da desconstrução política, territorial e cultural.
O fenômeno dessa desconstrução é associado à transição para a pós-modernidade historicamente iniciada com a Nova Ordem Mundial por conseqüência da globalização econômica.
Procurei articular a teoria clássica da construção dos Estado Nacional - ponto de partida para a formação da modernidade -, e a transição para a pós-modernidade com as construções identitárias no mundo atual sob a ótica de autores da sociologia e da antropologia.