"Julgamos que faça parte de umespírito civilizado emnossaépocater travado contatocom a forma de pensamentocríticopeculiarmentemoderno e oportuno e que chamamos sociologia. Mesmoaquelesquenão encontram nessa atividadeintelectualseuprópriodemônioparticular, como se expressou Weber, tornar-se-ão, através desse contato, umpoucomenosobstinadosemseuspreconceitos, umpoucomais cuidadosos emseus comprometimentos e umpoucocéticosemrelação aos comprometimentos alheios – e talvezumpoucomaiscompassivosemsuasjornadasatravés da sociedade”.(Peter Berger, Perspectivas Sociológicas: uma visão humanística) ·.
“Na entradapara a ciênciacomo na entrada do inferno, é precisoimpor a exigência: ‘Queaqui se afaste todasuspeita, que neste lugar se despreze todomedo (Dante Alighieri)’(Marx- Prefácio da Contribuiçãopara a Crítica da EconomiaPolítica)
As imagens do referencial livro do jornalista Zuenir Ventura, “Cidade Partida” de 1994, mostram como a cidade do Rio de Janeiro deste início de século está profundamente segregada.
Mais do que um ponto de chegada, a construção literária de Zuenir nos remete a construções retóricas, teóricas e práticas de modelos urbanísticos correspondentes a um projeto de modernidade das elites brasileiras nas cidades:
“Desde a reforma de PereiraPassos e passando pelosplanos Agache e Doxiadis, a opção foi semprepelaseparação, senãopelasimples segregação. A cidade civilizou-se e modernizou-se expulsando para os morros e periferiaseuscidadãos de segundaclasse. O resultado dessa política foi uma cidadepartida. (...)” VENTURA, Zuenir. “CidadePartida”. Companhia das Letras, 1994 (p.13).
Na passagem do século XIX para o século XX, o urbanismo, tal como é entendido hoje, estrutura-se de uma maneira científica e, captando várias formas do pensamento, converge para o ato de pensar e fazer a cidade, independente da contestação ou da manutenção da urbe irremediavelmente capitalista.
A implantação do projeto ideológico da República brasileira atravessou as décadas iniciais do século XX e a partir dos anos 1920, com o inicio da industrialização do país, a cidade do Rio de Janeiro, então capital da República, passa por transformações radicais em seu ambiente urbano. A atividade industrial concentrada nos centros urbanos e os empregos criados pelas fábricas estimulam o deslocamento das populações para a cidade.
É desta década o segundo plano urbanístico da cidade, o Plano Agache que , assim como o plano anterior do Prefeito Pereira Passos, buscava embelezar a cidade instituindo várias regras para a ocupação ordenada dos espaços, separando áreas para moradia, comércio ou indústrias. Nessa época surgem também os primeiros regulamentos para a construção de prédios (os arranha-céus), pois a inovação tecnológica do concreto armado começava a ser utilizada. O primeiro grande código de obras, que reunia todas as regras para as construções e a ocupação da cidade foi editado a partir deste plano, em 1937.
Nesse contexto, Alfred Agache aplica todo o seu refinamento de urbanista e explora as limitações da Reforma Pereira Passos que não foi capaz de medir a extensão de suas medidas frente a novos problemas colocados em termos humanísticos, espaciais, políticos e econômicos originários do crescimento da cidade.
O diferencial de Agache residiu na capacidade de observar, pensar e aplicar conceitos a área urbana integrando homens, serviços e máquinas à paisagem, desenvolvendo padrões de embelezamento junto a ajustes na tradição e no conservadorismo embutidos na modernidade da cidade.
Dois aspectos realçam as características conservadoras do Plano Agache. O primeiro está ligado a aplicação rígida nos zoneamentos e pela segregação de segmentos sociais, componentes que esvaziaram seus componentes ideológicos mais explícitos, abrandados pela especificidade tecnicista do urbanismo.
As intervenções urbanas no Centro da cidade exemplificam essas características de Agache. A Cinelândia definiu, efetivamente, a criação de um corredor que marcava o espaço entre a cidade norte e a cidade sul, entre a cidade provincial e a cidade moderna. Um corredor de tensão entre o mundo do trabalho e o mundo da cidade-capital.
O segundo exemplo, respalda o mencionado abrandamento da questão ideológica por conta da construção do Estado Novo varguista, que desenvolve um moralismo urbano simbolizado na nova divisão espacial da cidade, juntamente com um Estado fisicamente visível na monumentalidade dos projetos de Agache.
Portanto, o planejamento urbano de Alfred Agache dividiu a cidade em unidades espaciais apropriadas as manifestações particulares de cada grupo social, adaptando-as aos interesses do Estado e oficializando a separação das classes sociais no espaço urbano.
O Plano deixou algumas referências que terminaram por ser implementadas, como a abertura da Avenida Presidente Vargas, que expulsaria mais gente pobre da área central ,”partindo” definitivamente a cidade e condenando as favelas à erradicação.
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