"Julgamos que faça parte de um espírito civilizado em nossa época ter travado contato com a forma de pensamento crítico peculiarmente moderno e oportuno e que chamamos sociologia. Mesmo aqueles que não encontram nessa atividade intelectual seu próprio demônio particular, como se expressou Weber, tornar-se-ão, através desse contato, um pouco menos obstinados em seus preconceitos, um pouco mais cuidadosos em seus comprometimentos e um pouco céticos em relação aos comprometimentos alheios – e talvez um pouco mais compassivos em suas jornadas através da sociedade”.(Peter Berger, Perspectivas Sociológicas: uma visão humanística) ·.

“Na entrada para a ciência como na entrada do inferno, é preciso impor a exigência: ‘Que aqui se afaste toda suspeita, que neste lugar se despreze todo medo (Dante Alighieri)’(Marx- Prefácio da Contribuição para a Crítica da Economia Política)

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Texto do autor :COMENTÁRIOS SOBRE WEBER: RACIONALIZAÇÃO, ÉTICA PROTESTANTE E CAPITALISMO - Baixe aqui o texto em PDF


O  texto  discute  a tese weberiana do processo de racionalização e analisa como  a concepção de vocação dos puritanos teria favorecido o desenvolvimento do ethos capitalista no Ocidente.

Agosto 2006
Escola de Serviço Social - UFRJ.

Texto do autor: INTRODUÇÃO AS PROPOSTAS METODOLÓGICAS DE ÉMILE DURKHEIM E MAX WEBER .Baixe o texto em PDF

Agosto 2006
Escola de Serviço Social - UFRJ

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Texto do autor: CONSTRUÇÕES IDENTITÁRIAS NA DESCONSTRUÇÃO DO ESTADOS NACIONAIS- Baixe o texto em PDF


O texto  comenta, sucintamente, o processo de formação dos Estados Nacionais, emblemático da chamada modernidade, e as construções das identidades étnicas e culturais relacionadas às concepções contemporâneas desses mesmos Estados que hoje enfrentam o fenômeno da desconstrução política, territorial e cultural.
O fenômeno dessa desconstrução é associado à transição para a pós-modernidade historicamente iniciada com a Nova Ordem Mundial por conseqüência da globalização econômica.
Procurei articular a teoria clássica da construção dos Estado Nacional - ponto de partida para a formação da modernidade -, e a transição para a pós-modernidade com as construções identitárias no mundo atual sob a ótica de autores da sociologia e da antropologia.

Texto do autor: O PLANO AGACHE E A “CIDADE -PARTIDA” (2005)


As imagens do referencial livro do jornalista Zuenir Ventura, “Cidade Partida” de 1994, mostram como a cidade do Rio de Janeiro deste início de século está profundamente segregada.
Mais do que um ponto de chegada, a construção literária de Zuenir nos remete a construções retóricas, teóricas e práticas de modelos urbanísticos correspondentes a um projeto de modernidade das elites brasileiras nas cidades:
Desde a reforma de Pereira Passos e passando pelos planos Agache e Doxiadis, a opção foi sempre pela separação, senão pela simples segregação. A cidade civilizou-se e modernizou-se expulsando para os morros e periferia seus cidadãos de segunda classe. O resultado dessa política foi uma cidade partida. (...)” VENTURA, Zuenir. “CidadePartida”. Companhia das Letras, 1994 (p.13).
Na passagem do século XIX para o século XX, o urbanismo, tal como é entendido hoje, estrutura-se de uma maneira científica e, captando várias formas do pensamento, converge para o ato de pensar e fazer a cidade, independente da contestação ou da manutenção da urbe irremediavelmente capitalista.
A implantação do projeto ideológico da República brasileira atravessou as décadas iniciais do século XX e a partir dos anos 1920, com o inicio da industrialização do país, a cidade do Rio de Janeiro, então capital da República, passa por transformações radicais em seu ambiente urbano. A atividade industrial concentrada nos centros urbanos e os empregos criados pelas fábricas estimulam o deslocamento das populações para a cidade.
 É desta década o segundo plano urbanístico da cidade, o Plano Agache que , assim como o plano anterior do Prefeito Pereira Passos, buscava embelezar a cidade instituindo  várias regras para a ocupação ordenada dos espaços, separando áreas para moradia, comércio ou indústrias. Nessa época surgem também os primeiros regulamentos para a construção de prédios (os arranha-céus), pois a inovação tecnológica do concreto armado começava a ser utilizada. O primeiro grande código de obras, que reunia todas as regras para as construções e a ocupação da cidade foi editado a partir deste plano, em 1937. 
Nesse contexto, Alfred Agache aplica todo o seu refinamento de urbanista e explora as limitações da Reforma Pereira Passos que não foi capaz de medir a extensão de suas medidas frente a novos problemas colocados em termos humanísticos, espaciais, políticos e econômicos originários do crescimento da cidade.
O diferencial de Agache residiu na capacidade de observar, pensar e aplicar conceitos a área urbana integrando homens, serviços e máquinas à paisagem, desenvolvendo padrões de embelezamento junto a ajustes na tradição e no conservadorismo embutidos na modernidade da cidade.
Dois aspectos realçam as características conservadoras do Plano Agache. O primeiro está ligado a aplicação rígida nos zoneamentos e pela segregação de segmentos sociais, componentes que esvaziaram seus componentes ideológicos mais explícitos, abrandados pela especificidade tecnicista do urbanismo.
As intervenções urbanas no Centro da cidade exemplificam essas características de Agache. A Cinelândia definiu, efetivamente, a criação de um corredor que marcava o espaço entre a cidade norte e a cidade sul, entre a cidade provincial e a cidade moderna. Um corredor de tensão entre o mundo do trabalho e o mundo da cidade-capital.
O segundo exemplo, respalda o mencionado abrandamento da questão ideológica por conta da construção do Estado Novo varguista, que desenvolve um moralismo urbano simbolizado na nova divisão espacial da cidade, juntamente com um Estado fisicamente visível na monumentalidade dos projetos de Agache.

Portanto, o planejamento urbano de Alfred Agache dividiu a cidade em unidades espaciais apropriadas as manifestações particulares de cada grupo social, adaptando-as aos interesses do Estado e oficializando a separação das classes sociais no espaço urbano.

O Plano deixou algumas referências que terminaram por ser implementadas, como a abertura da Avenida Presidente Vargas, que expulsaria mais gente pobre da área central  ,”partindo” definitivamente  a cidade e  condenando as favelas à erradicação.





 

Considerações sobre o fenomeno urbano.Clique aqui e baixe o texto na íntegra em PDF


Ao longo do século XX, os estudos das cidades e dos fenômenos urbanos motivaram uma admirável e controversa sistematização intelectual. No mundo de hoje , esses estudos requerem uma atualização para posicionar a cidade e os seus efeitos no contexto da pós-modernidade.

Textos do autor: CIDADE E MODERNIDADE (2004) Baixe em PDF :


 CIDADE E MODERNIDADE


Qualquer teorização que se pretenda fazer sobre a implantação da modernidade  na urbe Rio de Janeiro com certeza  fará referências  ao contexto da construção da nação brasileira   na transição do século XIX para o século XX . A partir dos seus pilares básicos: a abolição da escravidão e a implantação da República respectivamente ocorridos em 1888 e 1889 ,  esses fatos  produziram uma seqüência , cronológica e ideologicamente veloz, que deu   o tom ao inicio da  modernidade na cidade do Rio de Janeiro.
O Estado implantado com a República tutelou essa construção modernizadora. Na condição de capital da recém -implantada República, o Rio de Janeiro buscava a visibilidade moderna  a partir do reordenamento urbano, socialestético iniciado com   o “bota-abaixo” do Prefeito Pereira Passos(1902-1906) , nome popular que ficou conhecida  a remodelação da cidade do Rio de Janeiro Para a população carioca pobre, o “bota-abaixo” era isso mesmo: a destruição de suas referências de vida urbana que soçobravam em meio ao nome de uma capital com ares europeus, bonita e moderna:  a “Europa Possível”.
No entanto, no meio dos escombros e da beleza da Reforma Pereira Passos, a questão social,  obscura e marginal, emergia.
O federalismo implantado da República discriminava. As relações do Estado com a sociedade eram distorcidas e, invariavelmente, resolvidas com o uso da força física e da repressão policial. Durante anos a regra foi essa. Foi assim com Canudos, com Contestado, com a Revolta da Armada e durante a Revolta da Vacina.
Em 1904, em plena gestão Pereira Passos, investido pelos poderes extraordinários do então Presidente Rodrigues Alves (1902-1906). , a capital da República da época, era uma cidade com acentuados problemas urbanos e sociais: pobreza, miséria, desemprego, lixo aglomerado nas ruas, ratos e mosquitos transmissores de doenças. Centenas de pessoas morriam como resultado das epidemias de febre amarela e varíola.
Na perspectiva e na pressa da modernização, o governo decidiu tomar medidas drásticas para combater as epidemias.
Para combatê-las, o governo contou com a competência e com a atuação enérgica do médico sanitarista Osvaldo Cruz, diretor da Saúde Pública, que convenceu o presidente Rodrigues Alves a decretar a lei da vacinação obrigatória contra a varíola. Um verdadeiro exército de funcionários da Saúde começou a sair pelas ruas e pelas casas destruindo os focos de ratos e de mosquitos. A população, entretanto, não foi devidamente esclarecida da necessidade da vacina.
Faltava informação e sobrava a desconfiança de malandros, mulatas, biscateiros, negros meninos, prostitutas, capoeiras e operários  quanto aquela República que eles, até ali, assistiam bestializados. Faltava reconhecimento popular e contato com aquela sociedade política que invadia lares na pressa de curar  as mazelas do Rio de Janeiro.
Em 15 anos, a República desceu dos cavalos, saiu do Campo de Sant’ Anna e invadiu o restante do centro do Rio de Janeiro. Eram a higienização e a moralidade como políticas publicas para a superação da questão social.

A população pobre da sociedade reagiu à vacina obrigatória:



Parece propósito firme do governo violentar a população desta capital por todos os meios e modos. Como não bastassem o Código de Torturas e a vacinação obrigatória, entendeu provoca essas arruaças que, há dois dias , trazem em sobressalto o povo”. Correio da Manhã, 12 de novembro de 1904.
Enquanto se perde tempo e se despende energia nessa agitação injustificável a pretexto da vacinação obrigatória, vamos deixando de lado as questões que realmente nos interessam e que afetam vivamente a situação do país. (...)”.
O Paiz, 13 de novembro de 1904·



Exatamente cem anos depois da Revolta Vacina, o Rio de Janeiro, a cidade maravilha, purgatório da beleza e do caos, assiste a um processo intenso de debates sobre o destino dos cortiços do século XXI.
As posturas daqueles que defendem a integração da favela a cidade, chocam-se com as de outros que preferem a solução do “bota-abaixo”.
A questão sanitária, mais exatamente a questão da natalidade, retorna a cena e é colocada como um fator determinante do crescimento desordenado das favelas. É fato que os índices de natalidade nas áreas favelizadas da cidade  ,remontam a índices de 50 anos atrás. De fato, os estatísticos afirmam que o crescimento populacional nas favelas é quatro vezes  superior ao da cidade. Um retrocesso que deve ser creditado a incompetência e ao descaso da realização de políticas públicas, leia-se  a histórica questão social .
A cidade naturalizada não quer e não tolera a favela. O senso-comum quer a remoção assim como quer a camisinha e a laqueadura no controle da natalidade.
Contudo nãooutro modo de reverter tal situação sem entender e superar todos os problemas que existem nas áreas de favelas, do sanitário e demográfico ao policial passando pelo educacional.
O olhar contemporâneo para o mundo é o olhar cada vez mais a partir do local. É visão de cidade completa e integrada, mesmo que, aparente desatino, seja uma cidade demorada.
Nossa modernidade citadina é como foi gestada: autoritária e excludente.  Corre-se o risco de estimarmos a pós-modernidade sem resolvermos, em vastas áreas urbanas no Rio de Janeiro, as demandas da modernidade.
Como considerou José Murilo de Carvalho, “ás tarefas que até agora nos ocuparam, quais sejam, construir o Estado (século XIX) e construir  a nação(século XX) ,deve ser acrescentada,a tarefa cada vez mais importante de construir a sociedade[1]



[1] CARVALHO, José Murilo. “Cidadania na encruzilhada”. In: BIGNOTTO, Newton (org.) Pensar a República. Editora UFMG, 2002 (p.124)
Produto do "Bota-Abaixo" Avenida Central (1906), depois Avenida Rio Branco em 1912.